sábado, 6 de janeiro de 2018

Um bairro chamado literatura






Quem nunca leu a obra de Gonçalo M. Tavares pode começar pela série O Bairro, cadernos dedicados aos Senhores, que iniciou em 2002 com O Senhor Valéry e a lógica. As personagens, que carregam nome de autores canónicos - Paul Valéry, Roberto Juarroz, Italo Calvino, Robert Walser, André Breton, Emanuel Swedenborg, Bertolt Brecht, Karl Kraus, Henri Michaux, T. S. Eliot - e representam algo do espírito deles (e do que se fala sobre eles), interagem com os seus "vizinhos" e falam sobre as suas visões de mundo peculiares.

O Bairro é “uma espécie da história da literatura em ficção” de chave de leitura lúdica, uma utopia que vai no décimo volume, com ilustrações de Rachel Caiano. 



Desenho de Rachel Caiano para o Bairro (versão original a preto e branco)


Na opinião de G. M. Tavares, as desenhos são para serem lidos e não para serem vistos:

"Agrada-me muito essa ideia do desenho ser uma outra forma de escrever. Uma coisa que me choca um pouco foi o desenho ter entrado numa espécie de subterrâneo, como algo que não existe no pensamento, como se este só pudesse ser expresso pela linguagem. O desenho afastou-se do raciocínio. N’O Bairro há muito isso, e especialmente em O Senhor Swedenborg. Quando estou a escrever à mão, há coisas que penso através do desenho e só consigo expressar através do desenho. Os desenhos nesse livro são claramente para serem lidos e não para serem vistos."

Segundo o autor, a lógica da linguagem se tem alguma coisa  a ver com a lógica da matemática é com o número π [pi] que é interminável.
A linguagem não dá resto zero.
Gonçalo M. Tavares, Ler, nº 97, p. 32



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